segunda-feira, 16 de abril de 2007

Por relacionamentos mais transparentes

Quando se apresenta diante de uma mulher pela primeira vez, o homem comum não tem idéia do peso que suas palavras assumem. A negligência, nesse dia, pode ser fatal.

No momento inaugural de um relacionamento, é dada ao homem a oportunidade de falar de todos os defeitos aos quais encontra-se emocionalmente apegado, declarando-os como faz à Receita com os seus quinze mil em despesas médicas. A malha fina também existe nesse caso, mas o risco deve ser corrido. Isto porque, como se sabe, todas as falhas apresentadas no primeiro encontro são previamente perdoadas, aceitas como parte da personalidade do homem, talvez até como a face obscura de suas virtudes. Quase todas, pelo menos. De qualquer forma, esse infeliz não terá uma segunda chance. Não conheço nenhum caso de mulher que aceite “esqueci de te dizer no outro dia, mas tecnicamente, ainda estou sob condicional” com uma semana de atraso. Nesse encontro fatídico, aliás, o uso de álcool não é aconselhado a nenhuma das partes sob pena de termos, por um lado, compreensão indesejavelmente embotada e, por outro, descrições excessiva e desnecessariamente vívidas.

A confissão masculina, é natural, deve ser cronologicamente anterior a qualquer envolvimento real. Mais importante, deve ser verbalizada. Reside aí o principal segredo. Ao demonstrar um defeito perceptível sem claramente descrevê-lo, estamos seduzindo a mulher com o sonho da transformação, da cura, da doma. É esta uma armadilha comum. Embora aumente muito a chance de triunfo na conquista, esse sucesso será apenas momentâneo, porque o espírito conversor de uma mulher, uma vez desperto não descansará até ter completado seu propósito. Não incorra nesse erro. Melhor será percorrer caminhos mais seguros, mesmo que menos eficazes.

Uma vez lembrada no momento certo, a falha poderá ser eternamente defendida como parte do pacote ‘pegar ou largar’ da estréia. Por isso, tome tempo na sua primeira conversa com uma mulher. Se possível, faça anotações prévias, utilizando-se das modernas técnicas de memorização. Ao discorrer sobre as podridões, apresente-as relacionadas por um encadeamento lógico e dentro de contextos maiores. Os familiares são muito comuns, mas os psicológicos e os sociais têm sido bem aceitos. Os biológicos, como as alergias, são infalíveis, mas não convém abusar (sogras, sobrinhos pequenos e shopping centers foram testados sem sucesso).

Certifique-se de que está sendo ouvido e compreendido - um erro comum, para amadores, mas que já nos custou dois goleiros no domingo. Apegue-se aos detalhes, fale com calma e seja específico. As ex devem ser citadas nominalmente. Comece pelos fatos mais importantes e avalie as reações da sua interlocutora enquanto avança no assunto. Não se arrisque demais (não, poligamia exclusivamente masculina não é um modo de vida comum nas Ilhas Fiji) mas seja inflexível. Lembre-se que uma fronteira está sendo criada ali, um limite que pode representar paz ou tormentos pelos anos vindouros. Todos sabemos o quanto a diplomacia frouxa custou à Europa nos anos 30.

Em tudo, procure bom senso. A conquista continua sendo o propósito principal, portanto, pegue leve. Entenda ainda que toda mulher também tem seus esqueletos guardados, essa é a hora de fazer concessões. O escambo é sempre bem vindo, mas cuidado para não sair perdendo, pois elas costumam ser excelentes nisso. Um último detalhe: você não sabe com quem está conversando, portanto tenha em mente que seu futuro pode estar em jogo. Se alguém tivesse me dado esses conselhos há alguns anos, eu não teria passado o último feriado arrancando carrapatos de quatro vira-latas debaixo de um sol de 40°, a 150 km da piscina mais próxima.

Boa sorte.

Um comentário:

Vini disse...

mas se é tão dificil assim eu não vou nem tentar!