segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Mau humor

Tem dia que eu acordo a fim de reclamar. Nesses dias, me mantenham isolado ou eu acabo me expondo ao ridículo. Em algum momento do dia, me vejo explicando para um interlocutor atônito e levemente constrangido porque eu não assisto ao Fantástico há 13 anos e 4 meses. Nenhum bloco, nem cinco minutos. Até novela eu já encarei e, uma vez, por estar socialmente encurralado, agüentei dois blocos do Zorra Total. Mas o Fantástico eu me nego. Se você somar os minutos que eu assisti esse programa em todo esse período (sempre por acidente), o total não chega a uma hora, com certeza. Meus motivos são justos, mas a paixão com que os descrevo não tem ajudado minha escalada social.

Mas (alegre-se), não vou falar sobre isso. Vou falar sobre outras coisas que afloram esses sentimentos. Basicamente vou desabafar um pouco sobre a imbecilidade reinante.

Por que eu tenho que ligar a TV e ouvir uma sílaba que seja do abobado do Nelson Jobim? Não suporto esse traste posudo e fingido que desfila pelos aeroportos do Brasil fazendo caras de novela das oito, simulando choque, vergonha, tristeza e indignação. Se eu me exaspero, só posso imaginar o que isso causa nas pessoas que realmente experimentam esses sentimentos. Os caras que perdem compromissos importantes em filas de vôos ou os que perderam um familiar nos desastres. Acho que se eu fosse uma dessas pessoas vomitaria cada vez que esse hipócrita faz seus pronunciamentos enfáticos repletos de slogans medíocres e sugestões estapafúrdias. Os técnicos que entendem de aviação civil (se é que existem no Brasil), que certamente acompanham o ministro nesses passeios devem morrer de vergonha no fundo com as besteiras que ele fala. Só mesmo num país com esse governo covarde e essa imprensa hipócrita se daria tanta importância a uma mula (mil perdões aos muares inocentes) incompetente desse tipo.

E o ministro Mello? Quem é que leva a sério uma figura daquelas? Qual a utilidade social desse apalermado cínico? Esse priminho do Collor não deve nem assoar o nariz sem ter alguma motivação política, o que é grosseiramente ridículo num juiz do STF.

Outra coisa é a idéia preconceituosa (e falsa) que os pobres e ignorantes votam no Lula. É a política anti-povo, a classe média com o pé limpo. E essa postura 'Manhattan Connection', asquerosamente perceptível em FHC, se reflete naqueles imbecis que enchem a boca pra fazer piadas do tipo “precisa de nível médio pra ser gari, mas não pra ser presidente”. Rá, rá, rá. Isso se chama democracia, mala, se não gostou procura uma ditadura.

Por outro lado, até quando o governo vai associar a votação de Lula a qualquer coisa criticável no país? “Se a economia estivesse mal (e não está), Lula não teria recebido 200 trilhões de votos”. “Se existissem corruptos no PT (e existem), Lula não teria 800% de votos”. Vira o disco, cacete. Que conversinha bem chata essa.

E a isenção da Veja? E a volantaiada do Dunga? E as propagandas de cerveja? E os programas humorísticos da TV? E as crises aéreas (a verdadeira e a da imprensa)? E os cadernos de cultura dos grandes jornais brasileiros? E o padrão de atendimento a consumidores do país, de bancos a delegacias, passando por supermercados (não entro mais no Carrefour) e empresas de telefonia? E as mensagens de e-mail claramente mentirosas que as pessoas repassam incansavelmente? E os insuportáveis erros de português que nos cercam por todos os lados?

Seguindo expressa orientação médica, vou tentar não falar do Galvão Bueno, suas hipóteses prévias aos fatos e sem qualquer relação com a realidade, seu esforço infantil para prová-las, sua incapacidade de entender qualquer coisa, sua arrogância sem medida, seu séqüito de puxa-sacos sem personalidade, sua noção descabida de patriotismo, sua incompetência profissional (ao contrário do que se apregoa, tecnicamente, ele é um péssimo narrador esportivo). Pronto, falei do Galvão. Mais um Prozac.

Gente, fala sério. Se eu seguisse meus instintos cada vez que acordo desse jeito, ia faltar tomate (e torta de chantilly, e saliva, e porrete).

Não tem humor que resista a um feriadão a em frente à TV.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Das pequenas hipocrisias jornalísticas cotidianas

Eu delirava com aquelas reportagens do Fantástico em que uma repórter traduzia para o público as novas gírias da 'moçada'. Eles ainda fazem essas porcarias? Um grupo de garotos se reunia, microfones e câmeras ligadas, o 'papo rolava solto'. A moça fazia algumas perguntas, a gurizada respondia e os espectadores iam sendo glossarizados. Sempre existiram matérias com esse tipo de contexto: vamos mergulhar no mundo de... Podia ser dos jovens, dos caminhoneiros, dos artistas de circo, por aí vai. Desde que me conheço por gente (sério mesmo, desde uns oito anos de idade) eu me irrito com a superficialidade desse tipo de reportagem.

Essas matérias me lembram - e é disso que eu queria falar - as 'grandes revelações' da mídia. Uma câmera escondida penetra num mundo de sombras e traz surpreendentes verdades à tona, do tipo 'policiais rodoviários aceitam propina', ou 'o consumo de maconha acontece livremente nos pátios das faculdades'. A imprensa mundial, mas a brasileira especialmente, tem o dom de fingir choque com coisas absolutamente conhecidas. Nas coberturas políticas isso acontece o tempo todo.

Semana passada os caras interceptaram ligações telefônicas e trocas de mensagens de membros do judiciário e assombraram o mundo. Os juízes conversam entre si sobre suas causas. Eles discutem política interna do órgão ao qual estão ligados. Quantas surpresas! Mas para a revelação maior ninguém estava preparado. Eles, os juízes, se sentiram pressionados pela ampla cobertura jornalística do caso do mensalão. É isso mesmo, eles estavam com a faca no pescoço.

Aqui entre nós, quantos juízes do Supremo você conhecia? Aliás, bem na surdina, você sabe se esse Supremo é o STF ou o STJ? Não se preocupe, quase ninguém sabe. Mas de uma hora pra outra, esses camaradas começam a ter seus nomes citados e seus perfis esmiuçados na TV. Foi indicado pelo Lula, pelo FH, é conservador, etc. Com exceção do babaca do ministro Mello, a maior parte deles mal tinha dado entrevistas. Não estavam acostumados com essa exposição. Você acha que a cobertura ultra tendenciosa da mídia pressionou o resultado? Se até os deputados e senadores – macacos velhos e caras de pau treinados – só votam seus aumentos nas vésperas de feriado, imagine esses entogados que só mostravam a cara no TV Justiça.

O assunto gerou capa da Folha, como se a Verdade estivesse sendo descortinada. No dia seguinte, negativas, explicações. A cultura da hipocrisia está instituída e a mídia utiliza-a como bem entende.