terça-feira, 31 de julho de 2007

No mesmo dia


Shakespeare e Cervantes são, respectivamente, os maiores escritores em língua inglesa e espanhola do mundo. E morreram na mesma data (embora não no mesmo dia). Interessantes as coincidências. A comparação entre Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni não é oportuna apenas por terem morrido na mesmo dia. Eles eram os dois últimos grandes diretores europeus vivos. Compartilhavam o mesmo rótulo (filmes bem “europeus”, intelectuais e entediantes) e se preocuparam com temas parecidos, como incomunicabilidade, solidão, silêncio.

Ingmar Bergman é o símbolo preferido do “cinema-cabeça”, aquele das sessões obscuras em cineclubes de fanáticos. Pena que esse estereótipo tenha uma carga tão negativa. Confrontada sem preconceitos (e com alguma paciência, reconheço) com um filme de Bergman, qualquer pessoa era tocada por suas imagens. Persona, Morangos Silvestres ou Gritos e Sussurros são exemplos perfeitos. O Sétimo Selo ou Fanny e Alexander são mais palatáveis. Pessoalmente, ainda recomendo Cenas de um Casamento, um mergulho profundíssimo na intimidade de um casal ou Sonata de Outono, sobre a relação mãe e filha. A verdade é que Bergman era o último gênio cinematográfico vivo. Alguns grandes cineastas ainda estão por aí, mas gênio só restava esse. Forte influência do teatro, longas seqüências, fotografia primorosa. E que interpretações! Seus filmes mudaram meu interesse por cinema e certamente muitos aficcionados sentirão sua falta.

Antonioni também era um diretor de exceção, embora tenha produzido menos obras-primas e ainda tenha feito uns filmes bem chatinhos. Mas é o diretor de A Noite e A Aventura. Poucos filmes, talvez mesmo nenhum, ficaram tão fixos na minha mente como A Noite. As longas seqüências de caminhadas (que em outros filmes dele, como Deserto Vermelho, são absolutamente aborrecidas) foram hipnotizantes e me ajudaram a refletir mais sobre a linguagem do cinema do que quaisquer outras cenas individualmente. A Aventura, considerado seu maior clássico, é semelhante no sentido, mas o isolamento do indivíduo é provocado por elementos naturais (uma ilha), o que para mim é menos interessante do que no caso de A Noite, que ocorre dentro de uma festa. São excelentes filmes.

Dois grandes artistas morreram ontem. Seus filmes provocavam reflexões genuínas e comoviam cinéfilos com histórias simples, discretas e preenchidas por emoções sutis e verdadeiras. Hoje o mundo acorda mais barulhento, mais shopping center, mais superficial.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ando ocupado


Uma maravilhosa desculpa para não andar atualizando esse blog.
A Vitória nasceu dia 25/07, às 00:47 e já deixou o pai bobão.

Mais fotos no: http://fotosdavitoria.blogspot.com