sexta-feira, 16 de maio de 2008

Para quê? Para quem?


Bob Woodward é o grande jornalista investigativo do mundo. Os bons incomodam ministros, constrangem empresários. Ele derrubou Nixon.

De 70 e poucos pra cá, muita coisa mudou.

O encanto foi quebrado, a presidência passou a ser escrita em minúsculo. A democracia amadureceu, a tecnologia evoluiu, a sociedade desenvolveu mais recursos para fiscalizar seus governantes. Outros bons jornalistas se apresentaram, e Bob incrementou seus contatos em Washington.

No seu segundo livro sobre Bush Jr. (Plano de Ataque, 2004), Woodward melhorou a resolução de seu retrato de um presidente influenciável, pouco preparado e inseguro a ponto de não mudar de opinião diante das evidências.

Mas os tempos são outros.

Bush Jr. não parece correr qualquer risco, fora o fracasso eleitoral tardio.

Woodward contrapõe seu retrato com declarações tiradas de uma longa entrevista com o próprio Bush. O jornalista agora tem uma barriga e menos cabelos. Em vez do Deep Throat, seus contatos são generais e assessores presidenciais que falam on the record. Mas não é a mudança de Woodward que se lamenta. Seu retrato ainda é relevante. Ele não grita mais, mas seu sussurro tem valor. O problema é que a sala está vazia.

A verdade é que, além do incremento das formas de controle sobre desmandos políticos, esses trinta anos assistiram a e uma lamentável decadência da imprensa e uma massiva alienação do público. As duas cresceram juntas, uma ajudando a outra.

Nos anos 70, Bob trabalhava para o Washinton Post. Você imagina um jornalista do Post derrubando Bush? Pois é, foi o que aconteceu.

Greg Palast, o mais parecido que temos com um novo Woodward, tem ótimos recursos, a Internet, um bom jornal inglês. Mas tem também um rótulo do tamanho de sua coragem. Com uma ajudinha incidental de Michael Moore, a imprensa usa os rótulos para relativizar qualquer denúncia política de ordem não-sexual.

Se Bush tivesse se deitado com sua cadela, teríamos uma chance. O próximo presidente americano só poderá ser derrubado pelo Daily Mirror, ou coisa que o valha.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Ele voltou



Neste domingo, Leonard Cohen apresentou-se ao vivo depois de 15 anos sem fazer shows. Foi em Fredericton, no Canadá, sua terra natal. Há muitos anos eu aguardo e procuro avidamente por informações sobre uma possível, mas muito improvável turnê. Cohen tem 73 anos. São 13 a menos que Chuck Berry (pretendo vê-lo em junho) mas é muita coisa. Há algumas semanas, fiquei sabendo do anúncio momentos depois de noticiado pela Reuters, poucos minutos depois da declaração de Cohen. Cheguei a planejar uma viagem à Europa para assistir alguns shows, mas as circunstâncias tornaram impossível.

Cohen cantou vinte de suas músicas, todas clássicas, todas maravilhosas e foi elogiado por todos. Antes de começar, recebeu mais de dois inutos de aplausos. É claro que não seria diferente, mas ver algumas fotos e imaginar o acontecido me deixou realmente arrepiado.

Existem rumores de que a turnê pode passar por aqui em outubro, no Tim Festival. Tenho alguma coisa para sonhar.

No show de domingo.

Num ensaio, alguns dias antes.