quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Happy happy hour

Passo o dia envolvido com coisas “importantes”. Planejamento, prazos, contratos, fiscalizações. Preencho muita papelada, sou constantemente cobrado. Nada muito diferente de qualquer outra pessoa que trabalha. Durante o dia, as tarefas se acumulam, alguns problemas se resolvem sozinhos e outros - a maioria - se complicam ainda mais. Às 17h, como quase todas as pessoas, minha cabeça está zunindo. Hoje, trabalho com comunicação empresarial que, apesar de tudo, é bem menos estressante que meu último emprego, num banco.

Independente da carga de estresse a que estamos expostos, precisamos de válvulas de escape. Como trabalho em uma área industrial relativamente isolada cujo principal acesso é via ônibus da própria empresa, descarta-se a opção tradicional, a cervejinha. Até porque eu não bebo, mas isso não vem ao caso. No ônibus que me leva para casa, alguns ouvem música, outros conversam (um pouco alto demais pro meu gosto), a maioria dorme. No meu caso, o melhor remédio para um dia atarefado é um bom livro. Carrego na pasta, junto com as bolachas recheadas. Coloco o livro no colo, me ajeito no banco, lanço os olhos à página. Aos poucos, minha mente troca as cobranças por Cortazar, Thomas Mann, Dostoievski, por cinema, história, filosofia. Se o livro é bom, chego em casa renovado, sem incomodar ninguém. Se o livro é ótimo, desembarco procurando um cantinho escondido para continuá-lo. Como moro numa cidade pequena e tenho uma esposa paciente e compreensiva, tenho lido bastante.

Mas, recentemente, esse quadro mudou um pouco. Agora eu tenho uma linda nenê em casa e os meus horários estão meio malucos. Todas as horas do dia agora guardam potencial para provocar algum tipo de cansaço. Meu momento de paz é o ônibus. E a viagem não é muito longa. Quando eu sento naquele banco acolchoado, meu corpo só quer saber de dormir. Dependo de meus colegas solidários para não acordar na garagem da empresa de transporte todos os dias.

E a minha cabeça? O sono descansa o corpo, mas a atividade cerebral continua. Existe uma maneira eficiente de abandonar problemas e preocupações cotidianas? Tem remédio que proporcione aquela gostosa sensação de alívio de deixar as chateações para trás? Tem. A solução, como freqüentemente acontece, está na raiz do problema.

Assim que abro a porta, minha esposa coloca nos meus braços a pequena Vitória. E essa criaturinha de poucos dias, que nem sabe o que está acontecendo, muda meu dia. Quando ela mexe a sobrancelha, boceja ou entorta a boca (será um sorriso?), torna pequenas todas as coisas do mundo. Nada existe fora dos limites daquelas bochechinhas. E começa uma nova rotina. Ela abre a boca. “Será que vai chorar? Deve estar com fome. Ou está sentindo alguma dor? Não está com muita roupa? Acho que a gola está irritando o pescoço da coitadinha, ela está tentando dizer alguma cois, olha a cara dela.” Aí ela espirra, e o papai ri, aliviado. Tranqüilo, mas só até o próximo ínfimo movimento facial. Essa nenê é ocupação garantida para muitas horas. E o papai, dez minutos depois de chegar em casa, já nem lembra o nome do chefe.