sexta-feira, 13 de abril de 2007

A felicidade no quase-ser

Curiosidade, nostalgia ou excitação têm em comum a particularidade de não ser alguma coisa. Quando você descobre, não está mais curioso; se recorda, é porque não é – ou tem, ou faz, ou está – mais. É próprio da excitação o dissipar-se no próprio ato consumatório.

Desfrutar, aliás, não é senão uma substituição de sensações, que parte da expectativa e gera satisfação ou decepção. O passeio à praia pode se revelar um acontecimento desastroso, ao contrário do que acontecia quando era apenas um projeto, uma expectativa na mente da criança. O princípio se aplica a um sanduíche ou ao corpo de uma mulher que vemos na rua.

Ao contrário da satisfação, que para ser plena depende de fatores como competência, capacidade individual, superação e resultados, a expectativa se basta. Rememorar o passado, investigar, alimentar o apetite. O último segundo da espera será, na verdade, o ápice da felicidade. Isso mesmo, felicidade. Ao contrário do que se crê, felicidade é um estado de espírito bastante comum, talvez banal mesmo, experimentado diariamente por milhões de pessoas.

Mas a definição mística e nebulosa de felicidade faz com que as pessoas se sintam cada vez mais distantes dela e aumenta a pressão que as pessoas sentem por se perceber felizes. Precisa-se agora do atestado alheio de felicidade. Por isso o Ter, o Mostrar, o Parecer. Por isso a propriedade ostensiva. Por isso pessoas que colocam para si objetivos que levam anos para ser atingidos – quando o são, e à custa de quantos sacrifícios! – e fazem dessa satisfação a única fonte potencial de felicidade. Essas distorções conceituais encobrem uma série de disfunções facilmente detectáveis nas neuroses do homem moderno.

A felicidade está ali, um segundo antes de onde a procuramos.

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