quinta-feira, 10 de maio de 2007

O papa não é tão pop


É claro que eu nunca conseguiria me expressar da mesma forma que o Sean e a Márcia (talento de menos e pudores demais)- até porque não tenho exatamente a mesma opinião - mas compartilho o sentimento de revolta que a visita do “sucessor de São Pedro” (sic) provoca em todos nós. Gente, isso tá parecendo Copa do Mundo. É em todo lugar a toda hora. Esse excesso de exposição prejudicaria até a imagem do Pelé (exemplos extremos nos ajudam a visualizar certos fatos).

Essa viagem é uma combinação fatal. O excesso de valorização da visita de um líder religioso ao país e as posições historicamente arrogantes e agressivas, parcialmente anti-bíblicas e portanto incoerentes e hipócritas da Igreja Católica. Pessoalmente, minhas discordâncias com a figura são de ordem mais técnica (no fundo sou um moralista convicto), que não cabem aqui, até porque o texto não é sobre religião, nem sobre o papa. Isso mesmo. Estou falando dela, a maldita mídia.

Acredito que o papa tem o direito de não abrir mão de suas crenças (incluindo as babaquices) e de manifestá-las publicamente, mesmo discordando da maioria. Ele representa legitimamente um grupo (a Igreja Católica, não o cristianismo) e fala em seu nome. Só que eu creio que a opinião de B16 sobre camisinha, aborto ou homossexualismo diz respeito somente aos que querem ouvi-lo. O problema no que o cara pensa sobre céu ou inferno é que tem gente demais repetindo. Pombas, a gente tem ouvido opinião até da Preta Gil. Será que estamos tão ávidos assim?

Quando eu era pequeno, me ensinaram que a mídia cria falsas necessidades para gerar consumo. Eu não precisava daquele videogame, a propaganda é que estava me convencendo disto. Essa função, originalmente da publicidade, foi encampada pelo jornalismo quando os veículos perceberam que eles também precisavam de consumidores. O produto é a informação. A mídia agora precisa criar público para si mesma, resultando em todo tipo de palhaçada. O interesse da Globo não é difundir uma “mensagem de paz e esperança” pra ninguém. A Globo não ta nem aí para o discurso do papa. O objetivo aqui é que você ouça o cara, independente do que ele tem a dizer.

A situação está se tornando surreal a ponto de não conseguirmos mais saber direito quais coisas são ou não importantes. Estamos abertos a tudo, e um monte de baboseira ganhou status de informação. Por isso (também) esse vazio de conteúdo e a irritação de tanta gente com um assunto que nem deveria estar em pauta.

3 comentários:

Marcia disse...

tu vê só. :)

Anônimo disse...

PV meu bruxo,
sou uma vítima disso, não como leitor/ouvinte/telespectador, mas como agente de uma mídia pobre, medíocre e sem função social alguma. Como diria Ungaretti em seu blog fabuloso (www.pontodevista.jor.br/blog), na verdade somos showrnalistas e comunicólogos, e não jornalistas. A mídia reproduz o resultado de faculdades covardes, tecnólogas e que não aprofundam nem ensinam a pensar. Mas, temos que pagar contas, alimentar as crianças, e os poucos que têm alguma visão crítica sobre a própria condição controversa de ator de um teatro pobre, precisam continuar atuando, a serviço daqueles que saíram muito bem recomendados pelos bancos acadêmicos.

ELMO disse...

É, a conversa mole do papa é só um aspecto da coisa.