terça-feira, 15 de maio de 2007

Samuel Beckett

Em Companhia, um de seus últimos trabalhos, Beckett parece ter criado seu personagem ideal. Nu, sem nome ou lembranças definidas, sem quaisquer certezas, nem mesmo de sua identidade. Só sabe que ainda vive, porque divaga. Está no escuro e ouve uma voz, mas será que essa voz existe mesmo? O texto é hermético e despojado de artifícios, como o personagem. Sem ação ou reflexão. Um tapinha.

Em outra escuridão ou na mesma, um outro, criando tudo pela companhia. Isso, à primeira vista, parece claro. Mas, à medida em que os olhos se detêm, vai ficando obscuro. Na verdade quanto mais os olhos se detêm mais obscuro fica. Até que os olhos se fecham e, livre da observação atente, a mente indaga, Que significa isso? Que, afinal, significa isso, que parecia claro à primeira vista? Até que a mente também dá a impressão de se fechar. Como se fecharia a janela de um quarto escuro e vazio. A única janela que dá para a escuridão exterior. Depois, nada mais. Não. Infelizmente, não. Restam ainda os tênues lampejos de luz, e a agitação. Incessante”.

Nenhum comentário: