terça-feira, 4 de março de 2008

Que sujeito chato sou eu


Para se tornar uma pessoa totalmente feliz e integrada à sociedade, Antoine decide que precisa abrir mão de sua inteligência, doença que o tem prejudicado há desde a infância. Essa é história de “Como me tornei estúpido”, de Martin Paige. Apesar dos recursos do Google, não consegui descobrir se Paige conhece Raulzito (teoria, em Ouro de Tolo) ou Pedro Bial (prática, em Big Brother Brasil).

Mesmo sem ser totalmente original, a idéia é boa. A execução, razoável. É claro que a ironia está lá, mas um pouco evidente demais. Em função do paralelo entre os personagens, me lembrei de Zeno, mas ali sim o sarcasmo era sutil, quase invisível. Acho que Paige temeu pela capacidade de seus leitores, o que é compreensível e até sensato, mas prejudicou seu livro. Conclusão sobre literatura contemporânea, típica do personagem, aliás: se você quer escrever com inteligência e ironia, ignore todos os sinais da sua geração e não a subestime. Receita para o fracasso comercial, provavelmente.

Entre os méritos, algumas risadas, mais pra primeira metade, e a abordagem leve de Paige, que felizmente não se aprofundou demais onde não precisava. Além de Svevo, lembrei de Vonnegut, Oscar Wilde, Buñuel, Niesztche e – heresia minha ou plágio dele – Cortázar, já que a descrição dos amigos de Antoine é a coisa mais Rayuela que li recentemente. Aprovado, com restrições.

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