segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Das pequenas hipocrisias jornalísticas cotidianas

Eu delirava com aquelas reportagens do Fantástico em que uma repórter traduzia para o público as novas gírias da 'moçada'. Eles ainda fazem essas porcarias? Um grupo de garotos se reunia, microfones e câmeras ligadas, o 'papo rolava solto'. A moça fazia algumas perguntas, a gurizada respondia e os espectadores iam sendo glossarizados. Sempre existiram matérias com esse tipo de contexto: vamos mergulhar no mundo de... Podia ser dos jovens, dos caminhoneiros, dos artistas de circo, por aí vai. Desde que me conheço por gente (sério mesmo, desde uns oito anos de idade) eu me irrito com a superficialidade desse tipo de reportagem.

Essas matérias me lembram - e é disso que eu queria falar - as 'grandes revelações' da mídia. Uma câmera escondida penetra num mundo de sombras e traz surpreendentes verdades à tona, do tipo 'policiais rodoviários aceitam propina', ou 'o consumo de maconha acontece livremente nos pátios das faculdades'. A imprensa mundial, mas a brasileira especialmente, tem o dom de fingir choque com coisas absolutamente conhecidas. Nas coberturas políticas isso acontece o tempo todo.

Semana passada os caras interceptaram ligações telefônicas e trocas de mensagens de membros do judiciário e assombraram o mundo. Os juízes conversam entre si sobre suas causas. Eles discutem política interna do órgão ao qual estão ligados. Quantas surpresas! Mas para a revelação maior ninguém estava preparado. Eles, os juízes, se sentiram pressionados pela ampla cobertura jornalística do caso do mensalão. É isso mesmo, eles estavam com a faca no pescoço.

Aqui entre nós, quantos juízes do Supremo você conhecia? Aliás, bem na surdina, você sabe se esse Supremo é o STF ou o STJ? Não se preocupe, quase ninguém sabe. Mas de uma hora pra outra, esses camaradas começam a ter seus nomes citados e seus perfis esmiuçados na TV. Foi indicado pelo Lula, pelo FH, é conservador, etc. Com exceção do babaca do ministro Mello, a maior parte deles mal tinha dado entrevistas. Não estavam acostumados com essa exposição. Você acha que a cobertura ultra tendenciosa da mídia pressionou o resultado? Se até os deputados e senadores – macacos velhos e caras de pau treinados – só votam seus aumentos nas vésperas de feriado, imagine esses entogados que só mostravam a cara no TV Justiça.

O assunto gerou capa da Folha, como se a Verdade estivesse sendo descortinada. No dia seguinte, negativas, explicações. A cultura da hipocrisia está instituída e a mídia utiliza-a como bem entende.

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